Quando falamos em um sistema de cria de uma propriedade temos que ter em mente que se trata de uma fábrica, em que cada setor tem sua contribuição para o resultado final. Você deve estar pensando “mas como assim uma fábrica? Achei que iam falar de campo!”. Essa é uma analogia interessante para conseguirmos ter bem claro que nosso sistema de cria é uma Fábrica de Bezerros, e que o número final é que vai determinar a nossa eficiência. Os bons resultados de cada setor irão determinar o resultado final de produção anual da fábrica, o mesmo acontece com o sistema de cria ao longo de vários anos. E para monitorar a eficiência do sistema, precisamos utilizar números (a gente só melhora o que é medido) que nos mostram a eficiência de cada setor dessa fábrica.
E quais setores são esses?
O grande setor da taxa de prenhez normalmente é o mais falado quando estamos discutindo a eficiência da cria. Esse setor é constituído por diversas máquinas que devem ser tratadas de forma separada (prenhez de novilhas, primíparas, secundíparas e multíparas) e que irão formar essa eficiência.
Se alguma dessas máquinas não estiver trabalhando direito (baixa prenhez nas primíparas, o que é mais comum) o resultado final do setor é automaticamente comprometido. Mas, ainda dentro de cada máquina temos uma engrenagem complexa, onde estão as peças que farão todo o sistema funcionar. Que peças são essas? A nutrição, a sanidade e a genética!
Você vai dizer: “Ok…mas, esses pilares eu já conheço”. O pecuarista já sabe da importância dessas peças para a produção, o problema é que muitas vezes estamos utilizando uma mesma peça (nutrição) em máquinas diferentes e aí que acabamos diminuindo a eficiência de animais nutricionalmente mais exigentes. Em uma ordem crescente, a primípara é a categoria mais exigente, seguido pelas bezerras ou terneiras desmamadas, vacas prenhas, vacas de engorda e por aí vai. Nutrir e oferecer os melhores alimentos seguindo essa premissa, é uma das chaves para, com os mesmos recursos, obter melhores resultados em um sistema de cria. Temos que usar a peça certa, que supra melhor cada máquina, para que ela trabalhe bem ajustada.
E como conseguimos isso?
Através de um planejamento nutricional capaz de suprir as necessidades de cada categoria animal. Isso pode ser feito com o uso de diversas estratégias, utilizadas de forma isoladas ou combinadas, como o planejamento forrageiro, suplementação estratégica e Creep-Feeding.
Vamos falar então mais especificamente do Creep-Feeding, que hoje em dia é uma das boas estratégias nutricionais utilizada em sistemas de cria, pois consegue melhores resultados tanto no ganho de peso de bezerros como na manutenção da condição corporal das vacas. Uma das suas grandes vantagens é de conseguir melhores resultados de ganho médio diário, pois têm acesso ao alimento de maior qualidade e específico para sua fase de crescimento, possibilitando o desenvolvimento do rúmen mais cedo e, em consequência a longo prazo, uma idade de abate menor (no caso dos machos) e o início da vida reprodutiva mais cedo (nos caso das fêmeas).
Além de conseguirmos bezerros mais pesados no momento do desmame com essa tecnologia, o uso do Creep diminui a exigência da vaca para a alimentação do terneiro ou bezerro, o que colabora para que as matrizes mantenham sua condição corporal adequada, possibilitando ciclar e estar apta ao serviço mais cedo.
O uso do Creep-Feeding, portanto, consegue atuar de forma positiva em três setores da nossa fábrica de bezerros: no setor de taxa de prenhez, devido à melhor condição corporal da vaca, no peso ao desmame e, consequentemente, na idade do primeiro serviço, reduzindo em uma (ou até duas) categorias improdutivas do sistema.
Agora você deve estar se perguntando, com tantos benefícios, Creep-Feeding é uma regra ou existem condições que não é interessante usá-lo? A resposta é: condições em que as vacas estão sendo bem alimentadas, com boas pastagens e bem manejadas, a produção de leite delas é muito grande e, consequentemente, a atração pelo cocho do Creep-Feeding acaba sendo menor e o incremento do ganho de peso pelo uso do suplemente também. Na maioria das vezes, nessas condições, os bezerros aumentam o peso na desmama, porém o incremento pode acabar não valendo a pena pelo custo específico do suplemento.
Como toda a fábrica, ajustes são necessários, mas o principal de tudo é atender bem cada setor, fazer um bom planejamento e não descuidar das contas para auxiliar na tomada de decisão pra não errar o pulo e gastar demais para pouco incremento que você possa ter.
Texto: Marcela Santana/Armindo Barth Neto
Imagem: Arquivo SIA